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Amor, sexo e casamento no judaísmo

Iniciado por Hera, Setembro 23, 2016, 11:22:34

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Hera

De uma maneira ge­ral, os judeus de tempos antigos eram puritanos, mas não pudicos. Eram francos mas não grosseiros. Tinham uma aceitação realística do sexo, mas não no sentido hedonístico dos gregos e dos romanos, que o tinham como um fim prazenteiro em si mesmo. Os judeus eram moralistas, analisando constantemente todas as ações, pensamentos, e sentimentos com o microscópio da consciência hebraica. Isto não contribuía para o conforto de suas existências, mas ajudava a esclarecer certas questões e as tornava um pouco menos ambíguas.

Os judeus desenvolveram uma filosofia de vida que tinha um caráter unificado, entalhado num sistema moral completo. Não criaram um dualismo entre os mistérios do céu e as realidades da terra; acreditavam que uma grandiosa unidade cósmica reinava no universo. No tradicional credo judaico (excetuando o dos místicos) não existia uma separação real entre o corpo e a alma. "A alma é Tua, e o corpo também é Tua criação", entoavam os devotos em orações. Portanto, o poder da procriação era o instrumento sagrado com que Deus havia dotado todas as suas criaturas com o propósito de continuar e "colaborar" com ele em seu trabalho de infindável Criação.

A mente lógica do judeu devoto inquiria: se o impulso sexual fosse meramente uma tentação do Diabo, teria Deus colocado seus filhos a mercê dele para que fossem desviados e levados à destruição? Ao contrário: acreditava que se a paixão carnal levava à luxúria e à imoralidade, só acontecia porque o mal residia no próprio pecador e era devido ao abuso desregrado e ao uso indevido dos poderes sexuais atribuídos por Deus.

Uma aceitação menos repressiva da natureza psicossexual do ser humano levou os Sábios Rabínicos do Talmud a adotarem uma atitude mais humana. Instituíram regulamentos que não só alargaram como modificaram os que haviam na Bíblia, que esclareciam o que era permitido e o que era proibido na intimidade entre os sexos, os direitos e deveres do marido e da esposa, como orientação para uma maior compatibilidade e felicidade domésticas.

Amor, sexo e casamento no judaísmo.   
Uma das determinantes da origem da moralidade sexual entre os judeus dos tempos antigos, indicada na Torá, era a necessidade de isolar a vida judaica da imoralidade dos povos vizinhos representada primeiramente pelos cultos orgíacos de Baal e Astarté entre os canaanitas, e mais tarde pelas obscenidades dos mistérios gregos e da Saturnália romana. Por essa razão, as relações entre os sexos eram sancionadas e reguladas tanto pela religião judaica quanto pelas leis do Estado judeu (o qual, devemos lembrar, era uma totalidade integrada - uma teocracia ou Estado governado por Deus) de forma a que alcançassem um status de relativa santidade e também um alto grau de responsabilidade social. Esse padrão de moralidade sexual ficou fixado para todas as gerações posteriores; houve, naturalmente, as revisões morais que se originavam nas influências do ambiente não judaico a que os dispersos judeus estavam expostos nas várias regiões e em diferentes períodos culturais.

Isto pode ter relação com a cunhagem, no início da era rabínica, da palavra hebraica kidushim (santidades) para designar a cerimônia de casamento. Esse termo torna claro que os judeus, que viviam então em meio à civilização greco-romana, encaravam o matrimônio como uma união sagrada. Sua atitude estava em contradição com a dos romanos, que faziam referências depreciadoras ao "jugo matrimonial", pois viam marido e mulher como que "jungidos" um ao outro em conjugium. Em contraste, a noiva judia era "consagrada" ao noivo, tornava-se sagrada para ele  com o ato de consagração. Em conseqüência, suas relações com ela enquanto durasse o casamento, tanto como esposa como mãe de seus filhos, deve­riam seguir os mais altos padrões. Ele passava a ser responsável pelo tratamento que desse a ela, perante Deus e a comunidade judaica.

Essa con­cepção é bem representada nos ritos judaicos de casamento. Enquanto o noivo e a noiva estão sob a hupá, as sétima e oitava bênçãos são enunciadas, repetindo a antiga afirmação de uma vida que é potencialmente boa: Abençoado sejas tu, ó Senhor nosso Deus, Rei do Universo, que criaste a alegria e o júbilo, noivo e noiva, regozijo e exaltação, prazer e delícia, amor, fraternidade, paz e solidariedade.**

A prática do adultério na antiga sociedade judaica era encarada com horror e apreensão. Moisés, os Profetas e os Sábios Talmúdicos nela viam uma ameaça à integridade moral do indivíduo e à preservação de Israel como uma "nação sagrada". A proibição taxativa do sétimo mandamento do Decálogo: "Não cometerás adultério" era reforçada pela advertência do décimo: "Não cobiçarás a mulher do próximo."

No hebraico bíblico não havia palavra correspondente a "solteiro". A não exis­tência da palavra, prova, ipso facto, que não havia necessidade dela. A simples idéia de não se casar era inaceitável para o judeu de antanho. Mais tarde, oTalmud aventou a opinião penalizada de que "um homem solteiro vive sem nada de bom, sem ajuda, sem alegria, sem bênção e sem expiação". No decorrer do período talmúdico, quando as for­mas tradicionais de vida judaica estavam sob o impacto desorientador dos hábitos greco-romanos, devem ter existido alguns elementos inclinados a permanecer solteiros, os quais, na opinião dos rabinos, deviam ser estimu­lados ao matrimônio.


A execução de adúlteros cessou e a lei que a ditava tornou-se obsoleta ao final do período do Segundo Templo, depois que os conquistadores romanos da Judéia aboliram o Sinédrio e tiraram das cortes judaicas o instrumento judicial da pena capital. O marido traído podia obter o divórcio de sua infiel esposa. A lei rabínica dizia: "Um casal em que a mulher tenha cometido adultério deve-se divorciar."

A lei moral judaica exigia completa abstinência sexual dos solteiros de ambos os sexos. Assim que os meninos e meninas se tornavam conscientes de sua sexualidade, eram treinados no exercício do controle de suas paixões. A masturbação e até mesmo os "pensamentos lúbricos" estavam incluídos entre as transgressões sexuais proibidas. Maimônides, o rabino filósofo do século XII, médico de renome, aconselhava, no Guia dos Perplexos, um estratagema para se readquirir a calma: "Devemos voltar nossas mentes para outros pensamentos." Recomendava que se dirigissem ao Beit ha-Midrash (Casa de Estudo) para apaziguar os desejos ardorosos com o estudo da Torá.

Para a preservação da castidade entre os jovens era tradicional o costume de fazê-los casarem-se com pouca idade para que não caíssem em tentação. O Talmud define o marido e pai ideal o que "orienta seus filhos e filhas no caminho certo e providencia para que se casem logo depois da puberdade". A idade usual para o casamento era a de 16 ou 18 anos para o rapaz, e em torno de 12 ou 13 para a moça.

A dizimação devastadora causada pelos massa­cres da população judaica na Europa Ocidental e Central na Idade Média, tornava a preservação do povo judeu ainda mais premente do que antes para aqueles que sobreviviam. Fazia-se todo o empenho, religioso e comunal, no sentido de casa­mentos precoces, apesar desse casamento pre­maturo causar novos problemas sociais, econômicos, físicos, emocionais e psicológicos. Somente com o colapso parcial do isolamento do gueto em meados do século XIX que o costume de casamentos prematuros foi abandonado.

Embora o jovem judeu de tempos antigos fosse mais casto do que o de outros povos, a incidência da sedução e de lapsos morais era suficiente para alertar os olhares ansiosos de pais e de autoridades rabínicas para o perigo que representavam. Mesmo os casais comprometidos eram aconselhados a não terem qualquer intimidade sexual até depois do casamento. Até o século XVIII, ­e em círculos ultra-ortodoxos até os dias de hoje, os abraços e beijos eram proibidos para o casal de noivos. Com a tentação sempre presente, para impedir qualquer conseqüência por proximidade, a autoridade rabínica do século III do judaísmo da Babilônia, Rav (Aba Arikha), exarou uma proibição quanto ao noivo morar na casa de seu futuro sogro.

O sábio e autoridade rabínica da Babilônia do século X, Saadia Gaon, era de opinião que "o homem não deve ter desejo sexual a não ser por sua esposa, para que ele a ame e ela a ele". A coabitação era não só um direito do marido como também um dever religioso em relação ao qual, com todas as sanções rabínicas, a esposa tinha privilégios iguais. Mai­mônides aconselhava aos casados: "Não devemos nos exceder no amor sexual, mas também não devemos reprimí-lo".

Ser estéril era considerado uma grande calamidade, porque em torno do dever religioso da pro­criação girava a instituição judaica do casa­mento. Era obrigatório o divórcio de um casal em que a mulher não houvesse concebido nos dez primeiros anos de vida conjugal. Porém também causavam preocupação tão grande quanto a esterilidade os problemas decorrentes da fertilidade descontrolada. Os Sábios Rabínicos do período que se seguiu à Destruição possuíam apreciáveis conhecimentos de Medicina e Higiene. Estavam alertados para os perigos - físicos, morais e sociais - advindos de certos tipos de gravidez. Levando em consideração o problema do controle de natalidade e dos abortos, causadores de tanta controvérsia em nossa cultura atual, causa surpresa que há quase 2000 anos atrás os esclarecidos Sábios Rabínicos houvessem sancionado a interrupção de casos de gravidez por razões claramente especificadas.

Afirmava o Talmud: "Há três classes de mulheres que devem usar um absorvente (anticoncepcional, cuja consistência não é explicada): a  menor, a mulher grávida e a mulher que está amamentando. A menor para que a gravidez não seja fatal; a mulher grávida para que não ocorra um aborto (involuntário); e a mulher que amamenta, para que não engravide novamente e seja forçada a desmamar (prematuramente) a seu filho."

Nos tempos pós-bíblicos, cabia aos pais selecionar o cônjuge para seus filhos e filhas. A decisão final, porém, terminava por ser dos próprios jovens. Em particular, o poder do veto era dado à noiva. O pai deveria perguntar-lhe de maneira direta se ela estava pronta a casar-se, de livre e espontânea vontade, com o homem que ele havia escolhido para ela. Se ela dissesse que "não", o compromisso estava desfeito. Se ela dissesse "sim", sua resposta deveria ser explícita: "Esse é o homem que amo."

Os mestres talmúdicos tinham presente o relativo desamparo da mulher, num mundo masculino e, por essa razão, estavam decididos a dar-lhe toda proteção na livre escolha de um companheiro. Os rabis concediam, assim, à mulher, seu direito inalienável de modificar seu julgamento. "Escolher um companheiro ade­quado é uma tarefa tão difícil quanto abrir o Mar Vermelho", dizia um Sábio do Talmud.

Os Sábios se revoltavam contra os que se casa­vam por frio cálculo. "Aquele que se casar por dinheiro terá crianças malvadas", afirma o Talmud com franqueza brutal. Essa observação revela profunda percepção psicológica. Num lar fundamentado em interesses mercenários, não pode haver amor - somente um conflito contínuo. As crianças crescem ali, geralmente, com distúrbios de personalidade e uma visão deformada da vida.

Akiva, o Tana do século II, foi ainda mais lon­ge na defesa do casamento por amor. Ele próprio tinha vivido um idílio de amor profundo. Ao tempo em que servia como pastor do mais rico homem da Judéia, Kalba Sabua, apaixonara-se pela filha do patrão. Embora fosse ignorante na época e não tivesse qualquer importância aos olhos do mundo, ela retribuiu o seu amor e deixou a casa de seu pai para partilhar com ele de uma vida de privações e lutas. No consenso legendário do povo, foi o seu amor desprendido e seu encorajamento que fizeram do pastor Akiva a coroa e a glória do estudo da Torá. Em conseqüência, ao mencionar o amor conjugal, é compreensível que Akiva se expressasse com ênfase especial: "O homem que se casa com uma mulher que ele não ama, viola cinco mandamentos sagrados: Não matarás. Não buscarás a vingança. Não serás rancoroso. Amarás a teu próximo como a ti mesmo e que o teu irmão possa viver contigo." Como teria ele deduzido que isso acontecia com um casamento motivado pelo dinheiro? Rabi Akiva explicava: "Se um homem odeia sua mulher, ele de­seja que ela esteja morta. Ele é, portanto, moralmente um assassino!"

O ideal do casamento por amor, "consagrado segundo as leis de Moisés e de Israel", tornou-se tema de muitos poetas medievais hebreus. A preocupação com os casamentos por amor diminuiu perceptivelmente com a intensificação do sofrimento dos judeus na Idade Média. A dura realidade exigia casamentos práticos, e não sentimentais. A necessidade mais sentida dos judeus era a da sobrevivência e preservação física como povo. Em conseqüência, o shad'han(casamenteiro) adquiriu maior proeminência, pois arranjava os casamentos sem qualquer "exigência" supérflua, objeções ou demoras.

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