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Burning Man

Iniciado por Cassandra, Setembro 08, 2016, 08:20:56

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Cassandra

Por Martha Graeff

Começo esse texto com a seguinte declaração: essa foi simplesmente a melhor experiência da minha vida!

Às vezes fica difícil conseguir explicar o que é o Burning Man, mas prometo mergulhar profundamente nos seis dias em que estive nesse festival e relembrar toda arte que pude ver, os diferentes estilos de música que escutei, as pessoas que vi e o que o festival me ensinou.

Tinha escutado sobre o evento há quatro anos, quando um amigo falou que tinha ido a um lugar que mudou sua vida. Pedi detalhes e ele não soube explicar. Morri de curiosidade e a única coisa que pude fazer foi "dar um Google".

Anos depois, quando conheci meu namorado, ele estava prestes a ir ao Burning Man – seria o seu sétimo ano no lugar! Pedi para ele me explicar o que é o festival e, com dificuldade para encontrar palavras certas, ele disse: "Is life changing". Depois dessa não aguentei... Meu lado aventureiro ficou inquieto e prometi que iria no próximo ano!

Em Setembro desse ano, com a maior alegria e curiosidade do mundo, me joguei no deserto de Nevada! Que frio na barriga me deu quando vi aquele monte de gente acampada! Pensei: Como eles conseguem? E a poeira, o calor, o frio, a comunicação com o mundo lá fora?! O telefone não funciona e tem que se desligar e se desapegar totalmente das coisas materiais, tem que se divertir!

O festival acontece na Black Rock City, no meio do deserto de Nevada, nos Estados Unidos. A cidade é construída somente por uma semana. No sétimo dia tudo é recolhido, derrubado e até queimado. Mais de 50.000 pessoas comparecem ao festival e todo ano aumenta. Foi super difícil pra muita gente conseguir as entradas esse ano e, além disso, é uma aventura que custa caro.

Muita gente acampa, mas as condições são muito duras, tem que estar acostumado e saber montar tudinho e depois desmontar. Muito trabalho. A maioria dos meus amigos tem seus próprios traillers (o nosso é o tigrado!), o que faz a jornada mais confortável. Ar condicionado, cozinha, comida no estoque e muita água. Não pode deixar de tomar água, litros por dia para poder hidratar e ter energia no deserto. Lá é super seco, a pele fica um pêssego e ninguém sua (ainda bem), todo mundo lindo em suas bicicletas decoradas e com seus carros alegóricos!

As pessoas investem em looks suuuuper diferentes, ou seja, podem ser o que sempre desejaram no deserto. Não existe uma maneira de se vestir, o importante é ter criatividade e estar confortável. Lá tem de tudo: gente fantasiada, gente pelada, crianças, adolescentes e pessoas de mais idade. Eu escolhi looks que jamais poderia usar na cidade, no meu cotidiano. Escolhi pecas bem Mad Max. Roupas com couro, tachas, penas sintéticas (é proibido usar penas de verdade), e botas bem altas. Isso é quase um "must" já que o chão do deserto pode machucar os pés.

À noite é muito frio, todos usam casacos bem pesados, roupas quentinhas, gorros e meias. Durante o dia chega a fazer mais de 40 graus. E quando a tempestade de areia começa, não da pra enxergar absolutamente nada, fica tudo branco. Por isso que as pessoas usam óculos estilo "goggles" e bandana no rosto pra não respirar a poeira. Fiquei perdida na hora de fazer as malas, mas alguns amigos que já tinham ido ao festival me deram muitas dicas.

O evento tem arte de todos os tipos. Quando digo arte não me refiro a quadros ou esculturas, são coisas que você não acredita quando vê. Carros, monumentos, templos, arte com espelhos, arte que move, arte com vídeo, com música... Tudo com o propósito de te fazer pensar, viajar, participar. Tem gente que gasta milhões para construir um carro artístico e levar ao Burning Man por uma semana, todo ano. Nós temos o carro inspirado nos Flinstones. Um barato!

Até as bicicletas tem que estar decoradas, seguindo as regras da organização do evento. Aliás, eles são super rigorosos com as regras no deserto. Nenhum lixo no chão, não pode deixar rastros. Tem polícia pra todos os lados, mas sem deixar o ambiente pesado. Os policias usam óculos engraçados e até fantasia, volta e meia via um dançando!

Além de muita arte, no Burning Man tem música por todos os lados. São varias "boates" espalhadas pelo deserto. Você pode pegar a bicicleta e escutar a música de cada uma, estacionar, dançar um pouquinho, e partir pra outra! A nossa preferida foi a Robot Heart, com música eletrônica deliciosa. Você pode escolher o horário que prefere ir, está sempre lá! À noite, a cidade parece a Disney! Todas as luzes brilham, toda a arte no meio do deserto se destaca e o movimento no meio da Playa (como os veteranos se referem ao BM) aumenta, já que muita gente prefere dormir quando o sol esta muito forte durante o dia e sair dos traillers à noite.

Conheci muita gente bacana... Artistas, DJ's, cidadãos do mundo. Cada um vive essa experiência do jeito que preferir. Tem gente que faz yoga, tem gente que medita, tem gente que leva os filhos, tem gente que dança o tempo todo, alguns fotografam, alguns pedalam sem parar em busca de surpresas, alguns se perdem de propósito, alguns gostam do dia, outros preferem à noite e ainda tem os que não dormem!

Um dia fui andar de bicicleta com amigos para e me perdi depois de uma tempestade de areia... Foi uma das melhores coisas que me aconteceu! Eu encontrei uma construção, um quadrado que parecia um cinema no meio do deserto, resolvi entrar e não acreditei no que vi!! Pessoas comendo pipoca e guloseimas, no que parecia um perfeito cinema antigo, rodando um filme em preto e branco. As poltronas super confortáveis, o chão todo decorado com cores em néon, uma loucura! Sentei e aproveitei meu momento, sozinha, feliz.

Sai de lá e pedalei até o templo. Esse templo de madeira que você vê nas fotos é um lugar que as pessoas vão para meditar, pensar e rezar. A maioria das pessoas escrevem mensagens pra pessoas que já se foram e até colocam fotos, ou deixam um objeto de valor sentimental. A energia desse templo é tão forte e especial que assim que entrei me arrepiei inteira. No final do festival, esse templo incrível, gigante, todo trabalhado nos mínimos detalhes é queimado numa cerimônia silenciosa, com milhares de pessoas ao redor. Outro momento de arrepiar.

Quase chorei quando vi as estruturas mais lindas do lugar pegando fogo. Tanto trabalho, tanta dedicação. Eles fazem isso de propósito, pra passar uma mensagem. A mensagem do desapego, das coisas materiais, das coisas que nos deslumbramos ao ver no nosso dia-a-dia. A minha experiência pessoal foi muito forte, aprendi de verdade. Não posso dizer que nos dias de hoje conseguiria viver nessas condições, pois sou realista. Mas posso dizer que nunca me senti tão feliz e tão livre. Nunca senti tanto amor pelas pessoas e pela natureza.

Imaginem todas as escolas de samba juntas, em pleno carnaval, com 50.000 pessoas e cada um tendo a liberdade de construir sua fantasia, dançar do seu jeito, fazer o que quiser. É a arte da mistura entre a música, cores, figurinos, carros alegóricos e principalmente o respeito à liberdade individual de cada um. E tudo acontece em um deserto rodeado de montanhas e com o céu mais lindo que já vi.

O Burning Man é feito com amor para as pessoas se descobrirem, se respeitarem, ajudarem uns aos outros. Lá não se pode comprar ou vender nada, apenas trocar! As coisas acontecem e fluem de uma maneira incrível. Cada um participa de um jeito. Um amigo fez 300 pulseiras lindas para distribuir, outro levou 2.000 caixinhas de água de coco para quem tiver sede, outro levou um carrocinha de cachorro quente pra oferecer, tudo no meio do deserto! No nosso acampamento tínhamos um "chef" que cozinhava todos os dias e muitas vezes convidávamos outras pessoas que no final ajudavam a organizar!

Eu posso dizer que a maior mensagem que tirei do evento foi não só aprender a estar em um lugar com condições duras por uma semana, (muito calor, muito frio, muito seco, economizando água, comida, andando muito), mas também aprender que no nosso mundo de todo dia esquecemos que podemos ser tão felizes sem ter muitas das coisas que achamos essenciais.

Viva o Burning Man! Ano que vem tem mais.




Queima do boneco Burning Man




Um Templo





"A lei da mente é implacável:
O que você pensa, você cria; O que você sente, você atrai; O que você acredita, torna-se realidade." (Buda)