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Procura-se hereges frescos

Iniciado por Ziva75, Junho 22, 2016, 09:26:25

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Ziva75

Durante a Idade Média, a feitiçaria era considerada a arte dos malefícios e encantamentos, sendo apenas punida com a morte se produzia efeitos nefastos, mas, depois, começou a ser entendida como uma traição a Deus. "Quem inventou e propagou a bruxaria foi a Inquisição", afirma o historiador Rossell Hope Robbins; o Santo Ofício, na sua opinião, necessitava de uma nova heresia, depois de eliminados os albigenses e outros dissidentes do Sul de França. "A bruxaria foi criada para preencher esse vazio", acrescenta. Serviu também para aumentar o número de hereges e as receitas. Todavia, a Inquisição em breve perdeu o controlo processual sobre a bruxaria herética, excepto em Espanha e em Itália, onde constituía uma poderosa organização centralizada que, surpreendentemente, agiu mais em defesa das bruxas do que como parte da acusação.

O instrumento que legitimou o início da caça às bruxas foi a bula Summis desiderantes affectibus (1484), de Inocêncio VIII. Esse papa, que passou os últimos meses da sua vida a ser amamentado com o leite de uma mulher e que os médicos tentavam rejuvenescer com transfusões de sangue que levaram três jovens para o túmulo, foi responsável por abolir o Canon episcopi, de 906. O documento exprimia a posição oficial da Igreja, segundo a qual a bruxaria era uma superstição; era heresia acreditar nela. Graças a Inocêncio VIII, passou a ser herege quem não acreditasse nessas coisas.

A bula reforçou os poderes de dois inquisidores alemães, os dominicanos Heinrich Kramer e Jakob Sprenger, que estavam dispostos a acabar com a seita dos valdenses no vale do Reno. Tinham finalmente ensejo de punir severamente esse movimento herético, que acusaram de feitiçaria; em 1486, publicaram a obra que seria uma referência obrigatória durante 200 anos: o Malleus Maleficarum ("martelo das bruxas", no feminino, pois era considerada um assunto de mulheres). "O antifeminismo medieval tem as raízes assentes numa antiga tradição cristã", afirma Joseph Pérez. Na obra Formicarius (1475), o teólogo alemão Johan­nes Nider insistia no papel preponderante da mulher na bruxaria.

A ideia de que as mulheres eram seres expostos às tentações e, por conseguinte, perigosas já tinha sido manifestada por Santo Agostinho e subsistia no século XVIII,  como demonstra, por exemplo, o Diccionario de Autoridades (o primeiro publicado pela Real Academia de Espanha), que descreve deste modo os praticantes de bruxaria: "São mais vulgares as mulheres, pela sua superficialidade e fragilidade, pela luxúria e pelo espírito vingativo que nelas costuma reinar."

A morte da razão provocada pelos julgamentos sumários por bruxaria encontra a sua vertente mais dolorosa nesta confissão de um torturado à mulher que denunciou: "Nunca te vi num conciliábulo de bruxos, mas tinha de acusar alguém para acabar com os tormentos. Lembrei-me do teu nome porque, quando me levavam para a prisão, encontrámo-nos e disseste que nunca terias acreditado numa coisa assim contra mim. Peço-te perdão, mas, se voltassem a torturar-me, voltaria a acusar-te."

Talvez se pudesse pensar que a barbárie foi apenas produto da ignorância que reinava naqueles tempos obscuros, mas não é assim. Efectivamente, a caça às bruxas permaneceu activa, sob outras formas, até tempos recentes. O ser humano nunca esteve a salvo, em nenhum momento da história, de voltar as costas à razão. Se não permanecermos alerta, qualquer um de nós poderá, em qualquer altura, acabar por acreditar na maior loucura. Nunca é demais recordar as sábias palavras de um arcebispo do século IX: "Este miserável mundo jaz, hoje, sob a tirania da estupidez. Os cristãos acreditam em coisas tão absurdas que seria impossível fazê-las crer aos infiéis."

Caça fina

Apesar da fama da Inquisição espanhola, a verdade é que a caça às bruxas foi relativamente benigna. Segundo Joseph Pérez, o país teve menos processos por bruxaria do que na Europa, e a maioria das sentenças foram leves: desterro, açoites, prisão, quase nunca execuções. O auto de fé mais famoso foi o de Logroño, em 1610, contra as bruxas de Zugarramurdi, no qual foram processadas 40 habitantes daquela aldeia navarra; 12 foram condenadas à morte na fogueira. Os testemunhos basearam-se em superstições e invejas e os inquisidores deixaram-se levar pela histeria social e pelo caso da vizinha comarca francesa de Labourd, onde o jurista Pierre de Lancre tinha condenado 80 pessoas.

Em geral, segundo Pérez, "a Inquisição espanhola tentou encontrar explicações racionais para o comportamento das bruxas, enquanto no resto da Europa a credulidade dos juízes enviou milhares de mulheres para a morte". Para aquele hispanista, esse comportamento diferente deveu-se ao facto de Espanha ter escapado às guerras religiosas que assolaram o continente. Por outro lado, a Inquisição estava demasiado ocupada a perseguir os mouriscos, os marranos e os luteranos, pelo que foi mais branda com a bruxaria, que não era considerada uma heresia em sentido estrito.

Os processos de Salem

Em 1692, o diabo fez escala numa povoa­ção do Massachusetts chamada Salem. Tratava-se de uma comunidade puritana que se regia por uma rígida e fanática religiosidade, com cada habitante a vigiar o comportamento alheio. Era nesse contexto que um grupo de raparigas se reunia para escutar as histórias fantásticas narradas por Tituba, uma escrava do reverendo Samuel Parris. As mais novas do grupo, Elizabeth, de nove anos e filha do clérigo, e Abigail Williams, de onze, começaram a sofrer convulsões e a desafiar e desobedecer a pais e familiares. Os seus ataques histéricos inspiraram as outras jovens. Estavam a ser, supostamente, perseguidas por espectros, e transformaram em bodes expiatórios as pessoas que mais antipatia despertavam na comunidade. Depois, estenderam as acusações aos restantes cidadãos: ninguém estava a salvo.
Os juízes do processo acreditavam que tudo se devia à ação do demónio e usaram as jovens como autênticos "detetores de bruxaria": qualquer pessoa que indicassem era acusada, mesmo na ausência de quaisquer provas. Foram detidos 31 indivíduos (dos quais 25 eram mulheres), condenados à morte para evitar "a ira de Deus".  A escrava Tituba foi encarcerada por tempo indeterminado, sem julgamento.

Catorze anos depois, uma das jovens, Ann Putnam, confessou que tudo não passara de uma farsa, orquestrada, como não podia deixar de ser, pelo demónio.


Fonte: Super interessante
"Treina-te para deixares ir tudo o que mais temes perder."

Mestre Cruz

O demónio não está em quem pratica bruxaria ou qualquer outra arte , o demónio está em nós todos , todos nós somos tentados a praticar o mal , não ?
Não eras capaz de matar ? Não sabes  :) depene da situação que te encontres , acho que era preferível queimar , pedófilos, assassinos , e outros deste género do que queimar ou condenar , quem pratica bruxaria , minha opinião ...

As pessoas não são livres ? Logo que não prejudiquem o próximo  ;D Por todas essas lógicas referidas , o que vamos dizer quem anda contra a Natureza?
Homens com homens , mulheres com mulheres , filhos adotados por 2 homens ou 2 mulheres , mas será isso tudo normal ?

As pessoas sempre cismam com os bruxos , lol  ;D etc....

Um médico pode fazer 10 operações , e morrer 3 ou 4 , não deixa de ser médico  ;D está tudo bem .... ::)

Um bruxo não tem um resultado , é logo vigarista e fogueira com ele  ;D






Mas gostei do tópico  ;D embora não seja novidade para mim   >:(

Ziva75

Mestre Cruz!

-Em nós todos!! Ai, não! eu não estou com o demónio. Mas que não me queiram ver possuída hahaha

-Se era capaz de matar?   :) depende da situação!

-As pessoas sempre cismam com os bruxos! Mestre, não é cisma é história (Real) e das antigas.

-Um bruxo não tem um resultado, é logo vigarista e fogueira com ele! Só os bruxos/as?

Mas fico mais sossegada que gostou do tópico!! Não vá o diabo tesselas! hahahaa
"Treina-te para deixares ir tudo o que mais temes perder."

abrahel

Bonito mesmo é essa coisa da vida:
um dia, quando menos se espera, a gente se supera.
E chega mais perto de ser quem - na verdade - a gente é.

Mestre Cruz

Citação de: abrahel em Junho 22, 2016, 11:41:46
E das poucas vezes que concordo com o mestre!
Até pensei que concordavas mais vezes lol ::) ::) ::)

Citação de: Ziva75 em Junho 22, 2016, 10:50:29

Mas fico mais sossegada que gostou do tópico!! Não vá o diabo tesselas! hahahaa


Todos nós somos diabinhos  ;D ;D ;D