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Oportuna, com efeito; portadora de uma força vivificante sobre a qual se levantaria o único símbolo indiscutível da pátria mexicana, a Virgem de Guadalupe é também uma das respostas religiosas mais inteligentes da evangelização colonial. Sua presença no Vale do Tepeyac, uma zona sagrada da região de Anahuac, mitiga o banho de sangue que derramaram os conquistadores espanhóis durante anos de saque e cruel sujeição em nome da grandeza imperial da península; depois, ao se instaurar como crença legítima de um povo que reconhece a face de sua própria espiritualidade em seu rosto moreno, seu culto empreende por si só o caminho ascendente de uma devoção plena de mistério. Uma devoção que não se desprende somente de seu tronco católico ao se fortalecer pelo prodígio que a Virgem representa, mas que subitamente sujeita à sua divindade a expressão complementar de um cristianismo que persistiu até hoje não por sua doutrina nem pela obra institucional dos prelados, mas pela intensidade secular da fé. Não é casual, nesse sentido, que a culminância do fervor popular pela Guadalupana coincida com as manifestações datadas de independência ou de unidade nacional. Apesar de enigmáticas - o que confirma sua vitalidade milagrosa -, as origens da bela e singela tradição que eleva Nossa Senhora de Guadalupe a um símbolo protetor da identidade não coincidem com o desenvolvimento histórico de sua figura frente à injustiça; uma situação que, paradoxalmente, se agrava
conforme se engrandece o culto de uma freguesia que durante quinhentos anos só fez padecer, desde os aspetos mais fundamentais de sua vida, a dor que alimenta suas preces e seus rogos até hoje. A seus pés soluçaram-se carências de séculos e infelicidades embebidas em lágrimas que não parecem ter fim. Serena, como seu gesto enternecido, em seu olhar cabe a tristeza que se eleva sem cessar do fundo dos corações até sua figura quase descorada e sempre suspensa, enquadrada em prata e ouro na altura inatingível de um santuário que, construído na forma de um corredor invertido, não incita ao recolhimento nem oferece a atmosfera de religiosidade de sua basílica primitiva, mas que, não obstante, vence pelo poder da fé o peso nefasto de sua arquitetura. E isso também acentua seu prodígio porque, apesar de o ambiente que a envolve se demonstrar contrário à religiosidade, ela confirma sua nobre função de depositária e reflexo de um sentimento de vacuidade tão inesgotável que entendê-lo equivale a entender o caráter de uma cultura centrada em sua situação desvalida, fiel à sua orfandade ancestral e alerta para o ato reparador que somente Ela, por sua infinita piedade, pode originar. Seu culto, dessa maneira, reforça sua ambiguidade enigmática através do que se poderia chamar de guadalupanismo, manifesto em dois âmbitos: no nacional, se considerarmos seu poder unificador como mãe e emblema de um povo desprovido de outros símbolos de identidade de tamanha importância; e no particular, pela devoção doméstica em sua misericórdia para atender os rogos pessoais de que dão fé milhares de ex-votos, nada mais que o testemunho de uma maravilhosa confiança que fala, cresce e se explica por si mesma, apesar das inúteis investigações que têm pretendido esquadrinhar o portento desde a espiritualidade unívoca de nossa cultura ancestral. Dotada de uma poderosa substância insufladora de esperança, a Guadalupana é muito mais que a imagem revelada na ermida de Tepeyac; e o guadalupanismo mexicano muito mais do que o mito fundador da identidade mestiça. Ela é a mãe bem-aventurada de uma vida interior que, desde sua aparição no ayate1 do índio Juan Diego,
ofereceu consolo a uma raça dorida que nada entendia de símbolos interpostos entre a espada e a cruz, mas soube tudo o que tinha de saber quanto a quem dirigir sua orfandade primitiva. Ela é a mulher radiante que oferece aos indefesos um nobre motivo de adoração. Luz em meio às trevas, concede graças, perdoa e abriga o desamparado sem exigir dele maiores sacrifícios do que aqueles que voluntariamente queira ofertar. É a figura feminina por excelência em uma terra de órfãos. Mãe de Deus, onipresente e caridosa, tendo ou não suplantado o culto à prestigiosa Tonantzin local, comprovou sem tardança sua legítima regência sobre um Novo Mundo que ninguém, missionário, vice-rei ou soldado, poderia de outro modo governar. A força justiceira da Guadalupana se confirma no instante em que Miguel Hidalgo esgrime sua imagem como divisa de Independência frente à Generala do Vice-Reinado, como os espanhóis denominavam a Virgem dos Remédios. Desse modo, 1810 é a síntese do símbolo pátrio que se opõe ao regime da Nova Espanha em todas as suas expressões, desde a religiosa até a racial e a política. Sua imagem reaparece com os zapatistas em 1914, ao ocuparem a Cidade do México; este fato, associado aos antecedentes de suas aparições entre 9 e 12 de dezembro de 1531, confirma-a como padroeira das lutas populares, corroborado ainda por outros três episódios históricos anteriores que marcam a vontade popular: o primeiro, em que se reage com fervor irreprimível ao evento de sua aparição - por entre rosas e flores locais - contra o abuso escravista dos encomenderos2; o segundo, a 16 de setembro de 1810, quando aos brados "Viva a Virgem de Guadalupe! Viva a América pela qual vamos combater!", Hidalgo inicia o foco independentista que funda a nação, ao mesmo tempo que vincula a Virgem à ideia da independência da América; e, finalmente,  a  luta  dos  camponeses por suas terras, que principia o movimento revolucionário de 1910. Esta é a vertente política de um guadalupanismo que o clero comum se negou a aceitar e que, entretanto, prevalece no âmago da consciência social de um sincretismo que jamais se separou da luta
pela justiça. E a pátria, nesse sentido, é filha rezadora da dor e da necessidade; é também o apego simbólico a uma terra banhada com sangue e esperança, sobretudo esperança, que só pôde ser preenchida pela figura sagrada de uma entidade feminina que, mesmo mestiça na aparência, ostenta os ornamentos da cultura adquirida. A ideia de pátria unida acima das expressões irremovíveis de uma religiosidade remota que, como em nenhum outro especto, resplandece ao fundir seu espírito de sacrifício à radiante guadalupana. Quase apoteóticos, os minutos finais do peregrino que se aproxima de joelhos ao pé do seu altar - com talos espinhosos de nopal atados ao peito e às costas, ou com a pele atravessada pelos cravos préhispânicos da piteira, tal como os do Martirizado, e com os olhos semiabertos de tanto recolhimento espiritual - transmitem o mais perfeito sentimento de patriotismo guadalupano que, sem distinção de santuário, data ou país, e acima de qualquer pretensão política ou clerical, concede força espiritual ao inculto ou ao mexicano que deixou sua terra três gerações atrás, ao camponês maltrapilho e ao narcotraficante, ao burocrata ou ao empresário, ao artesão ou ao ladrãozinho de rua, ao prisioneiro, à prostituta ou à monja enclausurada. Nada se iguala a essa veneração sobrenatural. Nenhum outro símbolo se manifesta com tamanho furor nem se ostenta na vida social dos mexicanos qualquer outro motivo de exaltação como aquele inspirado pela Virgem de Guadalupe. Assolados por todos os lados, os nativos oravam em vão a seus amigos deuses para que os livrassem da opressão imposta pelas armas, dos massacres e da escravidão; porém, em vez de atender ao seu clamor, os temíveis deuses de outrora sucumbiram com todos os seus signos sob o duplo poder do aço e da palavra que, trazida de além-mar, nomeava e instituía um mundo que não podiam compreender. Precisavam de um símbolo criador que abrangesse vencidos e vencedores, uma resposta a seu desamparo e algum abrigo que, sendo próprio deles, também merecesse o respeito de seus amos. Aparecida ou criada, a imagem a que todos se puseram a chamar de Nossa
Senhora foi a primeira e a mais aguda atitude de compaixão que a Virgem Maria outorgava a seu povo eleito. Sua poderosa benevolência demarcava os momentos mais penosos de uma batalha de sujeição com a vitória do símbolo mestiço que, desde uma ermida serrana nas alturas tlalocas3, assombrou igualmente a naturais e estrangeiros pela quantidade de esmolas e oferendas que recebia - especialmente em forma de comida - em meio a devoções que nem a prestigiosa Nossa Senhora de Loreto nem a espanhola Guadalupe de Extremadura haviam recebido da parte dos recém-batizados. Única manifestação milagrosa reconhecida, a Guadalupana se transformou em fonte de uma fé inseparável da piedade somente dez anos depois da queda de Tenochtitlán. O rezar se tornou um aprendizado anterior ao do falar. Assim, muito antes que o idioma espanhol se impusesse como língua dominante, ela se infiltrou nas consciências dos vencidos para reinar na região da dor; precisamente ali, onde não tinha rival, na zona quebrantada da alma onde nem sequer o Crucificado conseguiu se firmar dada a impossibilidade de competir com o signo maternal legado pela perda da amada Tonantzin. Por isso as autoridades do Vice-Reinado, talvez a contragosto e com ou sem consenso, cederam e acabaram por aceitar que se algum poder haveria de se instalar legitimamente, este seria o da Virgem de Tepeyac. A colina de Tonantzin serviu como templo e culto à deusa-mãe desde tempos imemoriais. Segundo o frei Bernardino de Sahagún, por cerca de quarenta anos os índios chamaram de Tonantzin a imagem ali consagrada até que, por volta de 1560, os espanhóis começaram a designá-la pelo único nome de Guadalupe. Em língua local, era chamado Tepeácac esse monte sagrado ao qual acorriam peregrinos das mais distantes comarcas do México para ofertar sacrifícios, festas e dádivas àquela deusa cujo poder atraía ciclicamente centenas de pessoas; uma multidão que podia renunciar a tudo, menos à necessidade de adorar sua mãe Tonantzin, conhecida também como Cihuacóatl, ou "mulher da cobra", que então distribuía os dons mais contraditórios, como pobreza, desalento e trabalho, motivo pelo qual
devia ser agradada com extrema solicitude, e a quem se deveria render a mais delicada reverência a fim de não provocar sua ira nem suscitar nela o menor descontentamento. Os informantes asseguraram a Sahagún que Cihuacoátl costumava aparecer e desaparecer em lugares públicos como uma dama ricamente adornada de branco, no mais puro estilo palaciano, e que também fora enganada por uma serpente, assim como a Eva do Gênesis, embora não saibamos com precisão como se deu esse episódio nem como tal mito influiu na consciência pré-hispânica. A eventualidade serviu para que os frades, de acordo com o preconceito da falsidade e da debilidade feminina, estabelecessem certas analogias sobre os ensinamentos em torno do bem e do mal, as quais certamente foram aproveitadas para transmitir sua doutrina com o auxílio de exemplos locais. Isso favoreceu o sincretismo e, seguramente, a perturbação espanhola frente ao poder que o "tremendo" exercia sobre aquelas mentes americanas, criadoras de uma vasta genealogia de deuses duais e de símbolos que, aliados às disciplinas impostas ao corpo, ao costume da obediência e ao respeito que tributavam ao saber dos mais velhos, contribuíram para estabelecer o culto religioso de uma maternidade superior somente inclinada a manifestar e distribuir o bem. Uma maternidade disposta à proteção compreensiva e ao resguardo de uma suavidade tão contrária ao costume tradicional de adorar a uma divindade ambígua - mãe e castigadora - que não é difícil supor que no progressivo fervor à Guadalupana se concentrasse a verdadeira síntese da cultura nascente, uma cultura habituada à dor do vencido, à sua indubitável sensação de orfandade e à urgência de um amparo tão prodigioso que pudesse fazer do milagre da compaixão um meio de resistência. Tonantzin trançava seus cabelos e os penteava para cima, junto à testa, ao modo das mexicanas de hoje, com fitas de seda ou flores atadas em forma de pequenos chifres. De noite bramia, lançava gritos no ar enquanto carregava às costas um berço, como se nele transportasse seu filho, consoante ao costume da região. Quando
queria que a honrassem, aparecia e desaparecia entre a multidão abandonando ela própria seu berço no tianguis4, com o intuito de que as outras mulheres, ao se aproximarem intrigadas, acreditando que ela o havia esquecido, descobrissem que em vez de uma criança a deusa deixara a pederneira afiada com a qual se deveriam praticar os sacrifícios rituais em sua homenagem. Venerada e temida, Tonantzin, ou a Nossa Mãe, prodigalizava males a sua discrição ou os suspendia na medida em que seus devotos honravam-na com cerimônias e festividades, Como era mãe de deuses, seguramente intervinha poderosamente em favor ou contra os crentes, pois não é por acaso que, de toda a multidão de entidades abominadas pelos cristãos, fosse ela a mais combatida e, consequentemente, aquela de quem menos se falasse no já escasso registro daquela singular teogonia. Tampouco é fortuito que, ao se tratar de estabelecer um novo credo enfrentando a resistência natural dos conversos, fosse a colina de Tepeyac - ou de Tepeaquilla, como a chamaram os espanhóis - o sítio mais adequado para fundar a tradição mariana. O que talvez jamais se tenha esperado é que ali mesmo, em seu santuário ancestral, ressurgisse o símbolo sagrado da poderosa Tonantzin transmutado na figura mestiça de uma mulher clemente, também formosamente ataviada que, ao escolher um índio já batizado para divulgar sua mensagem, não apenas realizava o prodígio de decompor os atributos temíveis da astuta Cihuacóatl; mas que, por obra do sincretismo nascente, a sempre Virgem Santa Maria oferecia ao povo desamparado e não suficientemente convertido a graça de uma nova linguagem monoteísta de amor, esperança e apoio, além de acessível aos macehuales5. Além do enigma da própria revelação mariana, não deixa de assombrar o mistério que envolve esse culto à feminilidade indulgente dentro de uma cultura que, via de regra, dá as costas às mulheres e a qualquer reconhecimento da mais elementar equidade. Até parece que, a despeito do tempo, a Virgem de Guadalupe conservasse o atavismo da dualidade ao ostentar a mais alta virtude maternal em sua
natureza sem mácula. Como Cihuacóatl, a Guadalupana é mulher, mas não esposa, o que lhe permite universalizar a piedade. Radiante, ela repousa sobre a lua em quarto minguante, e a seus pés aparece o anjo da perfeita pureza. Trata-se de um anjo triste, mexicanizado e distinto da figura convencional e barroca. A própria Virgem não sofre nem chora como em outras invocações, mas seu olhar transluz a profundeza de uma bondade que mitiga a dor que fica depois da dor. Veste a túnica amorada, própria do imaginário espanhol do século XVI, e por seu comprido manto estendem-se os astros, como se estivesse coberta pelo teto do céu. Assim, em uma mistura perfeita de elementos mestiços e sobreposições sincréticas, arraigou-se a lenda e desse modo criou vida a devoção à padroeira do México e imperatriz da América, entre atos locais de adoração, inúmeros milagres desencadeados pela notícia das aparições e contra as divergências civis e religiosas quanto a aceitar como plausível não apenas o testemunho do índio, mas o próprio acontecimento que comprometia criticamente todo o sistema de autoridade. Imprecisa a princípio, inclusive sem nome próprio e sob o mistério da mensagem revelada em língua mexicana a um pobre homem do povo - um macehual que andava a esmo, caminhando pelo cume do Tepeyac -, a Guadalupana demarcou, desde os primeiros registros a seu respeito, sua distância litúrgica tanto das demais invocações de Maria como dos santos, cultos e cerimônias cristãs; e o fez para empreender sozinha o despertar dessa crença que, quinhentos anos depois, ainda surpreende por sua autonomia e pelo vigor de uma devoção tão original que, mesmo europeia, só se permite explicar a partir das profundas raízes locais que brotaram e se fortaleceram após a Conquista, ali onde o colonizador havia pretendido erradicar o rosto e a história do lugar. Por isso o acontecimento foi duplamente significativo; porque, de certa forma, tratava-se de aceitar que se engendrava entre os vencidos uma modalidade religiosa à sombra dos próprios dogmas da
Igreja oficial, ainda que alheia a suas determinações litúrgicas e de fé. Que a Mãe de Deus em pessoa intercedesse em favor dos índios era uma proeza difícil de acreditar. Se fosse aceita a versão exposta ao bispo Zumárraga por Juan Diego, os interesses dos encomendeiros seriam abalados devido ao cúmulo de preconceitos em relação à suposta falta de humanidade que recaía sobre os naturais da terra. Que, além disso, fosse morena, e que tivesse aparecido já três vezes seguidas ao aborígine Juan Diego eram fatos que contrariavam totalmente a decisão de não conceder aos vencidos qualquer signo de identidade que os igualasse perante Deus. Longe de aplainar o caminho da evangelização, a Virgem aparecida a Juan Diego, na verdade, complicou o monopólio religioso, pois o pensamento espanhol ainda não estava preparado para assimilar o sincretismo que, sem demora, acabaria adquirindo sua própria dinâmica. Não se pode esquecer que foi muito prolongada entre os espanhóis a discussão sobre se os índios tinham alma ou não. A bula do papa Paulo III, em que este declara que os nativos, mesmo os que se achassem fora da fé cristã, eram gente de razão, que não podiam ser privados de seus bens nem de sua liberdade, só foi publicada em Roma a 9 de junho de 1537, seis anos depois da aparição, da qual provavelmente o Vaticano teve notícia. Essa bula, porém, foi assimilada com muita lentidão, já que nela, contrariando a ferocidade praticada pelos encomendeiros, o papa ordenou que os índios fossem atraídos para o cristianismo por meio da palavra divina e do bom exemplo; bom exemplo esse que não somente foi desatendido, mas que se transformou em tal selvageria que, desde então, o termo "colonização" foi associado ao modelo de saques desumanos praticados pelos espanhóis no Novo Mundo. Tais antecedentes demonstram que as aparições da Virgem no cerro de Tepeyac, datadas de 9 a 12 de dezembro de 1531, não só questionavam como destoavam dos propósitos devastadores da colonização, justamente na época em que dominicanos e franciscanos
empreendiam a árdua tarefa de pacificar politicamente vencidos e vencedores, seja em espanhol, seja em língua mexicana. Daí que, desde então, a Virgem de Guadalupe se converteu na fronteira simbólica entre a aspiração missionária que não obteve sucesso e um vice-reinado que, passadas as décadas de saque e de furor, orientou sua própria dinâmica rumo ao estabelecimento de classes, demandas e raças locais, e, posteriormente, à consumação da independência. A história não pode ser mais singela: na manhã do sábado 9 de dezembro, o macehual Juan Diego, batizado havia quatro ou cinco anos, originário de Cuauhtitlán e residente em Tuletlac, caminhava pelo cerro de Tepeyac quando, em uma das sendas ocidentais que dão vista para o oriente, foi surpreendido pelo canto melódico de aves tão variadas que ele ergueu os olhos até onde suas vistas podiam alcançar a fim de descobrir de que pássaros se tratava, pois nunca havia escutado coisa igual nem conhecido música que se assemelhasse àquela que acompanhava uma mulher belíssima, envolvida pelo arco-íris, e que se dirigiu a ele como "Filhinho Juan" em sua própria língua, convidando-o a se aproximar. Pasmado e cheio de reverência, o índio avançou até o lugar de onde emanava o resplendor e, ante a pergunta que ela lhe fizera, respondeu que se dirigia à doctrina6 em Tlatelolco, onde os padres de São Francisco pregavam, e que também pretendia ouvir a missa que ali era cantada todos os sábados em homenagem à Virgem. A Virgem empregou a suavidade característica do idioma nahuatl para explicar ao modesto lavrador que aquela que tinha diante de seus olhos era Maria, a mãe do verdadeiro Deus, e que deveria levar o relato do que havia visto e ouvido ao bispo e dizer-lhe, em seu nome, que era sua vontade que lhe edificassem um templo ali mesmo, a partir do qual ela se demonstraria piedosa para com o próprio Juan Diego e com todos os de sua nação, para com os devotos e todos quantos a buscassem em suas necessidades. Juan Diego aceitou a incumbência com a submissão característica dos mexicanos, e não sem encontrar dificuldades, agravadas pela modéstia de sua condição social, conseguiu chegar até
frei Juan de Zumárraga após várias diligências na casa episcopal. Repetiu-lhe humildemente o recado sabendo muito bem que suas palavras causariam suspeitas. O franciscano escutou-o; mas por cautela recomendou-lhe um novo encontro para, nesse intervalo, investigá-lo e examinar sua resposta com a devida maturidade. E lá se foi o macehual outra vez, para dar notícias à aparecida e para lhe pedir que escolhesse outra pessoa de mais digno crédito a quem o hueitheo-pixqui, ou bispo, daria maior atenção. A Virgem, longe de mudar de opinião, confirmou o índio ao entardecer, durante sua segunda entrevista; disse-lhe que agradecia sua obediência e que, ainda que outros houvesse, era de sua vontade que ele mesmo repetisse o recado na manhã seguinte. Juan Diego voltou à presença de Zumárraga assegurando-lhe, entre lágrimas, que era a Virgem que o enviava. Considerada a pusilanimidade dos índios, que contrastava com a firme segurança com que o nativo falava, o bispo começou a duvidar e a se inclinar a acreditar que até poderia ser verdade o que lhe era dito. Assim, mandou pedir àquela Senhora um sinal que certificasse sua petição e o obrigasse a crer que ela realmente reclamava seu templo. Por via das dúvidas, mandou duas pessoas de confiança seguir furtivamente Juan Diego, a fim de saber com exatidão o que ele fazia no cume do Tepeyac. E lá se foi o índio pela calçada com a resposta do bispo, ignorando os dois espiões. Estes, porém, o perderam de vista ao chegarem à ponte de certo arroio que passava pelas cercanias da colina. Espantados, procuraram-no por todos os caminhos, cercaram as sendas e, como não conseguissem encontrar sequer rastro do macehual, regressaram à presença do bispo para exigir um castigo sob a acusação de feitiçaria. Enquanto isso, Juan Diego, com sua habitual humildade, confiou à Senhora, que já o aguardava no mesmo lugar, que frei Juan de Zumárraga exigia uma prova para acreditar em sua aparição. Nesse momento, entre a resposta Dela de que atenderia ao pedido no dia seguinte e os acontecimentos que tratariam de impedir um desenlace
mais simples para esse episódio, estendeu-se a ponte de obstáculos que, em todos os mitos, põe o herói à prova. Ao regressar para sua casa, o índio se deparou com seguidos empecilhos: encontrou seu tio gravemente doente e, nessa noite, além do dia seguinte, foi ele quem teve de se encarregar de seus cuidados. Esquecido de sua preciosa missão, em vez de comparecer a seu encontro com a Virgem correu até Tlatelolco, no alvorecer do dia 11, em busca do curandeiro e do sacerdote, porque lhe parecia que Juan Bernardino estava à morte. Tão distraído estava em sua aflição que só quando estava para atravessar as colinas e sair na planície que dava vista para o México, se lembrou de que teria de cruzar pelo sítio em que a Senhora o havia esperado em vão durante o dia anterior. De maneira distinta da atitude geral dos santos, cuja modéstia parece ser acentuada pelo portento, e diferentemente da temeridade aventurosa dos heróis profanos, o comportamento de Juan Diego frente ao fato de não ter ido receber o sinal convencionado correspondeu totalmente à psicologia mexicana: acovardado, temeu que a Virgem o repreendesse e tratou de se esconder. Em vez de tomar o caminho real do ocidente, optou pelo oriente, escolhendo a trilha que levava até Texcoco na intenção de se esquivar dela, sem saber que para a Mãe de Deus não existem estradas longas nem curtas. Macehual como era, dobrou-se de vergonha quase na ponta do cerro porque a Virgem veio ao seu encalço. Desculpou-se, então, com inúmeros pretextos por não ter vindo no dia anterior, porque estivera ocupado assistindo ao enfermo e procurando um sacerdote que o confessasse. "Não te preocupes em cuidar da enfermidade de teu tio se tens a mim, que eu cuidarei de tuas coisas", respondeu ela com suavidade, e acrescentou: "Já teu tio Juan Bernardino, está bem e são". Logo a seguir, dando alguns passos com ele até o manancial que fluía aos borbotões - o lugar onde se edificaria a primeira ermida -, instruiu-lhe que subisse até o local em que a havia visto das outras vezes. Ali encontraria diversas flores silvestres e rosas, que deveria colher, guardar em sua tilma7 e traze-las até o poço, onde lhe diria o que deveria fazer com elas.
Era a manhã de 12 de dezembro, época do ano em que só crescem abrolhos. Porém, confiando na ordem divina, subiu até o pico do monte onde encontrou o belo jardim que lhe fora anunciado. Uma a uma cortou as flores, salpicadas ainda de orvalho, e carregou-as em seu manto para que Ela mesma as arrumasse enquanto ele escutava suas instruções: "Estas rosas são o sinal que hás de levar ao bispo para que ele te acredite: diz-lhe de minha parte o que viste e que faça logo o que lhe pedi. Leva-as com cuidado e não as mostres a ninguém, nem as reveles a pessoa alguma, exceto ao bispo". Como seria de se esperar, Juan Diego foi detido à porta da casa episcopal e negou-se a mostrar aos criados o que trazia. Eles puxaram atrevidamente sua tilma, que exalava uma fragrância intensa. Mas quando tentaram desprender as flores, descobriram que estavam de tal forma aderidas ao tecido que saíram em altos brados para contar a maravilha ao bispo. Frei Juan de Zumárraga mandou então que trouxessem o índio à sua presença para que ele mesmo pudesse observar o prodígio. Escutou seu relato não somente em pormenores, mas com a certeza íntima de que algo de misterioso estava ocorrendo naquela região. O resto da história é bem conhecido: quando Juan Diego desdobrou a manta que pendia de seu pescoço com um nó grosseiro, começaram a cair as flores ao mesmo tempo em que se formava no poncho a sagrada imagem de Maria. Húmida ainda, intensamente perfumada, a última rosa completou ao cair a figura radiante da Virgem no ayate que até hoje se venera na basílica. Admirados, o prelado e todos os presentes ajoelharam-se em prantos diante dela e devotamente lhe rogaram proteção e amparo para si mesmos e para a Nova Espanha. Imediatamente o bispo colocou a tilma em seu oratório e prometeu construir o santuário sem mais tardança. A 13 de dezembro de 1531, o sítio onde sucedera o milagre foi visitado pelo prelado, por autoridades, familiares e vizinhos encabeçados por Zumárraga e Juan Diego. Marcaram o lugar exato das aparições e depois se encaminharam para o povoado onde, são e salvo,
saiu Juan Bernardino a recebê-los com a notícia de que no dia anterior viu à cabeceira de seu catre um resplendor iluminando uma senhora formosa e serena que, ao livrá-lo das dores que sentia, lhe disse que a imagem que seu sobrinho Juan Diego levara entre flores à casa episcopal deveria permanecer no templo onde, a partir de então, ela seria chamada Santa Maria de Guadalupe. Verdadeiramente milagrosa, foi-lhe atribuído o singular prodígio de haver acabado com a idolatria. Afastou a temida Tonantzin dos contornos do México; e em vez de invocá-la pelo costumeiro tratamento de Nossa Mãe, os naturais recordavam-lhe agora como Tonanzini, ou Teotenatzin mas não a associavam mais à mãe de todos os deuses que fora responsável por incontáveis calamidades. Foi provavelmente assim que a Guadalupana se assenhoreou de seu templo ancestral e que os mexicanos prostraram-se a seus pés como única Senhora e Mãe de Deus. Assim, ao modo das histórias pintadas pelos remotos nahuas, sua imagem assinalou a junção de dois tempos que haviam lutado para coexistir e que, ao não encontrar um símbolo civil, armado ou messiânico, intensificaram o mito e sua referência revelada para consagrar, mais em favor dos vencidos, a única esperança de salvação de uma Nova Espanha que carecia de destino próprio. A notícia da aparição no cume do Tepeyac correu por planícies e montanhas na misteriosa velocidade com que os mexicanos se comunicavam de povoado em povoado, apesar das distâncias e dos acidentes geográficos. Antes de ser aceita como padroeira do México e muito antes que a Igreja imaginasse a importância que ela adquiriria na devoção popular, a Guadalupana confirmou por si mesma sua legítima concordância com as expressões locais de religiosidade. Daí que, embora frequentes e eventualmente acirradas, não tiveram continuidade as controvérsias sobre a idolatria remanescente nem dúvidas sobre se sua aparição era impostura ou milagre. Bem mais desembaraçado que as discussões em torno dos pormenores que diminuíam sua veracidade, o culto à Virgem disseminava-se por meio
dos testemunhos de sua comprovada bondade. Aqui se comentava sobre o enfermo curado; ali se falava de outro que havia escapado da morte somente por havê-la invocado; acolá um outro lhe agradecia por ter sido salvo da célebre inundação que assolou a cidade do México. Tampouco se descartavam as narrativas de novos conversos nem as grandes ou pequenas graças que iam desde a obtenção de um marido até o salvamento de algum naufrágio. Ante o crescimento forçado do cristianismo em pleno período de colonização, não eram poucos os relatos sobre prodígios multiplicados a céu aberto nem as supostas testemunhas de curas ou revelações divinas. Diariamente se falava na Nova Espanha do sem fim de acontecimentos que podiam servir como aval fiduciário das intercessões marianas. Foi por isso que se duvidou tanto de sua milagrosa presença, porque os frequentes e falsos avisos de portentos católicos tinham sido seguramente inspirados pelos próprios frades. Os jesuítas Francisco de Florencia e Juan Antonio de Oviedo relataram no século XVIII, em sua obra Zodíaco Mariano, que a fama corrente na Nova Espanha era de que se devia à santíssima imagem de Nossa Senhora de Guadalupe o fato de o México jamais ter padecido da calamidade da peste que infestava os reinos da Europa. Não obstante se sofresse de epidemias de sarampo, varíola, tifo ou outros males que mataram aos milhares, as enfermidades nunca assolaram no México com a mesma intensidade e virulência europeia nem foram necessários lazaretos ou quarentenas. Aqui o contágio dos enfermos nunca chegou a se estender tão perigosamente que tornasse obrigatória a imposição de medidas extremas de saúde coletiva. Esse fato, que para os jesuítas deve ser consignado como um milagre guadalupano, na verdade se devia à saúde e aos hábitos de higiene dos mexicanos, saúde que, por desgraça, foi diminuindo em conseqüência da escravidão e dos costumes sociais impostos pelos espanhóis. Os milagres que lhe foram atribuídos no século XVIII confirmavam, todavia, a proteção de Nossa Senhora de Guadalupe sobre o povo
desamparado. O jesuíta Francisco de Florencia assegurou que jamais se havia visto endemoninhado algum por estas terras e que, quando um espanhol se queixou na península ibérica de padecer de inomináveis torturas infernais, embarcou rumo a Veracruz, confiando em que a Guadalupana o libertaria de seus males. Na medida em que se aproximava do santuário de Tepeyac ia sentindo alívio, até livrar-se definitivamente do diabo que o atormentava quando se pôs a orar aos pés do altar. Depois viveu durante algum tempo na Nova Espanha, sob a proteção sagrada da Guadalupana. Quando acreditou que nunca mais o demônio se apossaria de seu espírito, viajou de volta à Espanha e lá, sem remédio, voltou a ser presa do diabo. Enquanto pôde, navegou novamente em busca do alívio já experimentado e outra vez, por meio de sua infinita clemência, a sempre Virgem Maria de Guadalupe afastou-o do inferno, desta vez até o fim de seus dias. São abundantes os testemunhos de seus milagres. Há, entretanto, alguns mais destacados que outros, dignos de uma consideração especial. No dia em que a imagem foi transladada do oratório pessoal de frei Juan de Zumárraga, na paróquia de Tlatelolco, para a capela de Tepeyac, em meio à festividade popular os índios decidiram representar uma batalha entre mexicanos e chichimecas, do mesmo modo que os dançarinos contemporâneos costumam honrá-la em seu santuário. Tamanha era a algazarra durante aquele combate, ampliada pelo ruído e pela devoção, que uma flecha perdida atravessou o pescoço de um dos participantes, que de imediato caiu ao solo, quase morto. Alguns socorreram o ferido sem atinar um remédio para salvá-lo. Invocaram a Senhora para que tivesse compaixão dele e, como ato inaugural de sua chegada ao templo, arrancaram a flecha que lhe atravessava o pescoço. No mesmo instante o mexicano levantou-se curado, A partir de então, convenceram-se de que a imagem no ayate do macehual Juan Diego remediaria a todas as suas necessidades. Em 1553, cerca de 22 anos depois das aparições, ocorreu uma singular confrontação simbólica entre duas virgens. Eram dias em que o culto local não estava totalmente estabelecido, e a veneração
escolhida pelos espanhóis não era cabalmente aceita no que se refere à intercessão mariana. Daí a reveladora importância do testemunho dos autores do Zodíaco Mariano, quando escreveram que Juan Ceteutli, um cacique que havia encontrado a imagem de Nossa Senhora dos Remédios em baixo de uma piteira, ficou paralítico e cego durante um ano após têla sacado de sua casa e a colocado em uma ermida. Fez-se transportar, então, ao santuário da Gudalupana, três léguas distante de sua casa, e bastou entrar de muletas em sua igreja para que recobrasse a visão e visse que a Virgem lhe sorria. Os jesuítas afirmaram que, com o rosto muito tranqüilo, aludindo ao que ele pensava a respeito da Virgem dos Remédios, perguntou-lhe a Guadalupana: "Por que vens à minha casa, se me expulsaste da tua?". Don Juan Ceteutli, animado com essa benevolente repreensão, desculpou-se dizendo que ela bem sabia do que havia ocorrido. Pediu-lhe perdão por havê-la tirado de sua casa e rogou pela saúde que tanto necessitava. Respondeu-lhe, então, a Virgem: "Eu te concedo a saúde. Volta ao povoado de onde saíste esta manhã; e no lugar em que me encontraste, reúne teus vizinhos e edifica-me uma igreja". Juan Ceteutli, primeiro mexicano que dá testemunho de seu encontro com a invocação mariana dos Remédios, cumpriu as ordens da Guadalupana e construiu o templo pedido. Este fato significou, na história do culto, a oposição que trezentos anos depois, durante a guerra da Independência, se daria entre a Virgem dos espanhóis e aquela identificada como tipicamente mexicana, ou seja, entre Nossa Senhora de Guadalupe e La Generala do Vice-Reinado, como era chamada Nossa Senhora dos Remédios. Os fatos curiosos são inumeráveis, todos celebrados como milagrosos. O prodígio da Guadalupana é também, de certa maneira, literário, pois os relatos que o povo narrava aos padres se transformaram, depois de um período não definido, em centenas de ex-votos, lendas, cantos e contos.


Um, por exemplo, dizia assim: 
Enquanto um homem rezava debaixo de uma pesada lamparina, diante da soberana imagem, o cordão que a mantinha suspensa repentinamente se rompeu. E há aqui muitos milagres em um único evento: ao bater sobre a cabeça daquele homem que adorava a santa imagem, o objeto não lhe causou dano algum; o vaso de vidro não se quebrou, o azeite não se derramou nem se apagou a luz que ali ardia.


Lê-se sobre outro acontecimento:
Um cego, esperançoso da caridade que todos experimentavam em contato com a Santíssima Virgem, decidiu visitar seu santuário e pedir-lhe a visão que tanto desejava. No momento em que entrou na igreja, já começou a enxergar e a proclamar a maravilha aos gritos; seu regozijo crescia cada vez mais porque, quanto mais se aproximava da imagem, tanto mais lhe melhorava a vista; e ele elevava o tom de voz até que, chegando diante do altar, recuperou totalmente a visão e, juntando-se aos demais presentes, deu graças à Senhora por lhe haver concedido tão grande benefício.


Mais um relato:
Admirável foi o prodígio de que foram testemunhas quantos se encontravam presentes na Igreja de Nossa Senhora. Acabando de rezar a missa, o bacharel Juan Vásquez de Acuña percebeu que, por conta de uma repentina rajada de vento, todas as velas do altar se apagaram. Providenciou, então, para que fossem reacendidas; mas, nesse ínterim, notou que dois raios daquele sol que cerca o corpo da imagem se estenderam até chegar às velas, acendendo-as para grande admiração e espanto de todos os presentes.


Este último testemunho é inaudito:
Uma mulher, sem que se soubesse a causa - ainda que depois se acordasse que era obra do demônio -, percebeu que seu ventre inchava gradualmente e de tal forma que lhe parecia que ia rebentar. Fez-se levar à Virgem de Guadalupe e pediu-lhe com todo o fervor e muita fé um remédio para o seu mal Bebeu água do poço que ficava ao lado da igreja e logo depois adormeceu. O sacristão contou, então, que debaixo do corpo da mulher saía uma enorme cobra de nove varas de comprimento, justamente a causa do inchaço de seu ventre. Ela despertou e se viu boa e sã, a um ponto que foi capaz de ajudar a matar a cobra, motivo pelo qual deu muitas graças à Mãe de Deus.


Fonte: Mulheres, Mitos e Deusas
"Treina-te para deixares ir tudo o que mais temes perder."